Grazi Massafera embarca no papel de vilã e acende nova fase dramática na carreira

Grazi Massafera está prestes a viver um momento emblemático em sua trajetória artística: pela primeira vez, interpretará uma antagonista em horário nobre na televisão. Na nova novela das nove, ela assume o papel de Arminda, uma viúva ambiciosa, fria e repleta de nuances sombrias — um desafio que marca os 20 anos de carreira da atriz e sinaliza um salto em sua construção dramática.

Arminda é uma personagem que castiga afetos e transgride códigos sociais internos. Viúva, desdenha do passado, manipula com destreza e incendia relações ao seu redor. Sua crueldade é sutil e impiedosa: humilha o filho, despreza a mãe e atua como peça-chave em esquemas ilícitos. Para Grazi, o ponto de partida desse antagonismo está na construção desse estranhamento entre o público e a personagem. “A maior dificuldade é dar naturalidade às atrocidades. Fico nervosa? Claro que sim. Mas também me dá prazer”, confessa a atriz, que abraça o risco com determinação.

A estreia de Arminda representa uma virada simbólica em sua filmografia — um desvio do papel de mocinha ou coadjuvante para ocupar o epicentro de ambiguidade moral. A mudança carrega tensão: há expectativas da audiência, curiosidade crítica e um condicionamento anterior à sua obra. Por isso, cada cena exige equilíbrio: não basta condenar ou excusar. Grazi mergulha nesse instável nexo entre repulsa e fascínio, entre identificação e repúdio.

Outro elemento combustível dessa nova etapa é a parceria estrelar com Murilo Benício. Na novela, ele vive Santiago Ferette, um vilão carismático e pragmático, amante e cúmplice de Arminda em um mundo de segredos, dinheiro e segundas intenções. Trata-se do primeiro encontro dramático fixo dos dois nas telas, e ela não dissimula a admiração: “Queria muito trabalhar com o Murilo. Ele é genial, criativo, divertido no set. Se estamos cansados, ele joga leveza”. Para ele, a química entre os antagonistas tem sido propícia ao envolvimento — “tudo vira riso, tudo vira energia”, afirma o ator.

O retorno de Grazi às novelas ocorre após um hiato de cerca de cinco anos. Nesse período, priorizou a vida pessoal, a maternidade e a introspecção. Agora, retorna ao grande palco com uma escolha estética mais ousada. “Até o fim da novela vou me sentir com esse frio na barriga”, admite. E esse frio é também promessa de transformação — de atriz que se reinventa pela coragem de ousar no antagonismo.

Para o espectador habituado a associá-la a personagens mais doces, há um choque, mas também uma curiosidade legítima: como se constrói uma vilã com densidade emocional, sem caricatura? Grazi aposta numa condição fundamental: mostrar que Arminda não é o mal em essência, mas uma força moldada por frustrações, ambições e disfarces. É na imperfeição e na dissimulação que se encontra o núcleo dramático.

“Três Graças” chega ao horário das nove repleto de tramas polêmicas, segredos e disputas de poder. O confronto entre Arminda e Ferette movimenta o centro da narrativa, enquanto a vilã estreia no palco do antagonismo maior — carregada de potencial simbólico. Em meio aos holofotes, Grazi Massafera faz sua aposta mais arriscada até aqui: deixar para trás a zona de conforto, encarar o embate moral e, sobretudo, mostrar que a vilania pode ser tão humana quanto a bondade.